Firmino Júnior: Tempos Hipermodernos

O conceito que discuto essa semana é acadêmico, mas nem parece. Com muita astúcia intelectual, o filósofo francês Gilles Lipovetsky nos apresenta uma discussão acerca da nossa era, que segundo ele é um tempo Hipermoderno. Entre outras coisas, ele explica que vivemos num tempo onde tudo é hiper, inclusive as ações das pessoas. Elucida ele que se por um lado nunca tivemos uma sociedade tão obesa, também nunca morreu tanta gente de anorexia. Vivemos, pra ele, num mundo em que as pessoas perderam o equilíbrio e passaram a viver apenas nos extremos.

Trechos do próprio Lipovetsky nos dão indicativos importantes da obra. Veja: “Ninguém negará que o mundo, do jeito que anda, provoca mais inquietação do que otimismo desenfreado: alarga-se o abismo entre Primeiro e Terceiro Mundo; aumentam as desigualdades sociais; as consciências ficam obcecadas pela insegurança de várias naturezas; o mercado globalizado diminui o poder que as democracias têm de regerem a si mesmas. Mas será que isso nos autoriza a diagnosticar um processo de rebarbarização do mundo, no qual a democracia não é mais que uma “pseudodemocracia” e um “espetáculo cerimonial”? Chegar a tal conclusão seria subestimar o poder de autocrítica e de autocorreção que continua a existir no universo democrático liberal. A era presentista está tudo menos fechada, encerrada em si mesma, dedicada a um niilismo exponencial. Dado que a depreciação dos valores supremos não é sem limites, o futuro continua em aberto. A hipermodernidade democrática e mercantil ainda não deu seu canto do cisne – ela está apenas no começo de sua aventura histórica”.

Fica evidente como esse novo espírito de época, que traz transtornos latentes tanto de ordem social quanto econômica, e até culturalmente falando, são designados pelo que podemos chamar de consumo em massa. Trata-se de um mundo que não é pautado por nós, mas sim que nos pauta por sua publicidade, que se torna um tipo de hegemonia social. Este cenário Lipovetsky chama de “sociedade-moda”, que tem substituído a sociedade disciplinar que conhecemos. Como o nome diz, nessa sociedade, o que é moda é um tipo de instituição social. Ou como diz Vinícius, do blog colunas tortas: “Se as sociedades tradicionais eram pautadas numa repetição de um modelo do passado, de um modelo mais ou menos pedestalizado, a sociedade regida pelo sistema-moda é regida pela transformação rápida e desesperada – a regra passa a ser, ao invés da repetição de um modelo mais ou menos projetado, a repetição da transformação. A regra é a inovação. O modelo que se repete é não ter um modelo para se repetir”.

Assim, encerro essa breve e resumida explanação sobre o pensamento Lipovetskyano, entendendo que suas percepções são extremamente aplicáveis ao nosso atual mundo contemporâneo? Pra você tudo parece hiper? Hipermercado, hiperofertas, hipertrofia... Esqueça os extremos hipermodernos e busque o equilíbrio.

FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, professor do Instituto Federal. Jornalista e mestre em Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br.