Firmino Júnior: O que é mudar?

Dizem por aí que vivemos num tempo de mudança. Dizem, muitas vezes, que muitas das coisas que eram não são mais. Tudo novo, vida nova, é uma frase sempre cheia de esperança que também remete ao ato ou efeito de mudar. Mas o que é mudar? Será que conseguimos definir essa ação? Nós estamos preparados para mudar a nós mesmos e aos outros? Essas são questões que, confesso, me afligem de certa maneira de forma bastante costumeira. Para o trigésimo quinto presidente norte-americano John F. Kennedy a mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro. Para alguém que foi assassinado pouco mais de dois anos depois de sua posse e que mesmo assim teve que enfrentar a Invasão da Baía dos Porcos, a Crise dos mísseis de Cuba, a construção do Muro de Berlim, o início da Corrida espacial, a consolidação do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos e os primeiros eventos da Guerra do Vietnã, com certeza mudar tem um gosto e um sentido muito especial. Dan Millman – um desses conhecidos escritores norte-americanos que enveredam para o crivo da auto-ajuda – disse uma frase sobre a mudança que me pareceu também bastante verdadeira. Para ele “toda mudança positiva - todo salto para um nível maior de energia e consciência - envolve um ritual de passagem. A cada subida para um degrau mais alto na escada da evolução pessoal, devemos atravessar um período de desconforto, de iniciação. Eu nunca conheci uma exceção”. Essa visão quase exotérica nos remete as dificuldades de se mudar. Não existe rompimento sem dificuldade. Para saltarmos de nossa zona de conforto – por mais que ela esteja ruim – para algo melhor, é mais do que natural sentirmos o incômodo dos problemas, da falta de confiança. Entretanto, há que se destacar que toda iniciação é renovação de energia e toda mudança, quando feita com responsabilidade, é para melhor. Não há o que temer. Você já teve a curiosidade de digitar a palavra ‘mudança’ no buscador Google? Se ainda não fez, faça. Você verá uma série de empresas que oferecem mudança com conforto; claro de um ponto ao outro. Verá também um sem número de reportagens que tratam da mudança de clima. Por sua vez, uma coisa você não vai encontrar: uma receita realmente padronizada e eficiente para você mudar de vida, ou mudar o mundo que te rodeia. Fato é que não existem soluções. Há quem diga que temos que mudar a nós mesmos para depois mudar o mundo, mas será que se o mundo não mudar nós realmente conseguiremos mudar a nós mesmo? Não sei. A única coisa que sei é o que o filósofo pré-socrático considerado o pai da dialética Heráclito de Éfeso afirmou certa vez. Em uma de suas passagens ele divagou que nada existe de permanente a não ser a mudança. Por um lado, se observarmos a natureza, a cada dia ela muda. Outro dia mesmo plantei um feijão no algodão com minha filha. Por dias observamos como ele crescia, crescia até não caber mais no pote que havíamos plantado. Conclusão: Heráclito está certo. Mudamos de forma tão permanente que esgotamos a nós mesmos. Tem hora que o remédio é parar de mudar para mudar mais, de forma a gerar novos ciclos. Confuso? Muito... Prefiro o feijão. FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, professor do Instituto Federal, jornalista e mestre em Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br.