Firmino Júnior: Silêncio

Casimiro de Brito define que o silêncio é uma floresta cheia de ruídos. Henry Thoreau, por sua vez, admite que o silêncio é a comunhão de uma alma consciente consigo mesma. Meu amigo Manoel Gandra, diretor do diário formiguense “O Pergaminho” também tem lá suas definições sobre o silêncio, formatadas numa canção campeã de vários festivais Brasil afora. Segundo ele: “o silêncio ataca, o silêncio mata tão silenciosamente. O silêncio é covarde, morde, arde, encarde, ele é voraz. O silêncio cega, o silêncio nega tão assustadoramente. O silêncio encurrala, cala, entala, empala, ele é desleal”.

Entretanto, o que parece que todos esses pensadores, artistas e filósofos é que o silêncio não é necessariamente a ausência de som, é claro, entendendo a própria ausência de som como informação, comunicação. Quando nos calamos, consentimos? Nem sempre, acredito eu. Mas com certeza emitimos pareceres que serão interpretados por outras estratégias, seja da face, sejam os gestos que emitimos quando, por algum motivo ou razão, nos silenciamos. Aliás, o ato ou efeito de silenciar não está ligado a omissão, mas sim, muitas vezes, a discordância extrema.

Aliás, algumas vezes dizemos para nós mesmos que não vale a pena se pronunciar. Será que vale a pena nos pronunciarmos diante de tantos escândalos de corrupção, seja na esfera federal, estadual ou municipal. A manifestação no Paraná contra o governador tucano Beto Richa – até então o Aécio Neves do sul do Brasil – foi reprimida com toda a truculência do mundo pelas forças do estado por um simples motivo: o fim do silêncio. Naquele caso, muita paulada foi dada em professor que saiu da zona de conforto, do silêncio. Valeu a pena? Veremos cenas dos próximos capítulos.

Como diz o amigo Gandra “o silêncio ataca, o silêncio mata silenciosamente”. Não sei em que ele pensava quando formulou essa frase, mas sim, o silêncio também ataca. Muitas vezes ataca mais do que um grito irritante. Ocorre principalmente com as pessoas que amamos. Quando elas não mais se importam conosco, não gritam mais com a gente ou simplesmente desistiram de extrair de nós o melhor que podemos dar, o silêncio logo aparece. Aparece e fere, o espírito e a alma.

Mas o silêncio também é um tipo de complemente. Digo isso, porque muitas vezes o melhor é o recolhimento interno. Nos ensinamentos do mestre Alan Kardec o silêncio tem uma forma toda especial. “Silêncio é prece”, é uma expressão espalhadas por muitos centros espíritas do mundo todo, demonstrando que a ausência de voz também pode ser um tipo de conexão com Deus. Vale lembrar que esse silêncio não é a morbidez total, mas sim uma tentativa de se desligar das coisas mundanas e se religar com o que de fato interessa: a presença divina em nossas vidas.

Por último encerro com uma frase de Martha Medeiros: “o silêncio que perturba, é aquele que fala. É quando alguém não te responde, não abre uma aba, mesmo assim, você entende a mensagem. E tá cheio de silêncio ruidoso por aí, não é verdade?

FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, professor do Instituto Federal. É graduado em jornalismo com mestrado em comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br.