Firmino Júnior: Você já sentiu saudade de hoje?

Durante esses dias enquanto pensava em um tema para escrever o artigo, li uma frase que me deu um estalo. Era uma frase simples que provavelmente muitos conhecem: “O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...” do Mário Quintana. Autor de linguajar tão simples, mas que brinca com as palavras como ninguém. Em minha opinião, é claro.

Pensando sobre a frase, me vieram tantas lembranças, tanta saudade. Saudade de um bando de coisas, uma deliciosa nostalgia. Me deu saudade da infância no armazém com a minha mãe, dos carinhos das professoras do jardim da infância, das molecagens do Colégio Estadual, dos anos incríveis da faculdade, do jornal, do início de namoro e talvez da saudade mais recente: o nascimento dos meus filhos.

E aí surgiram dúvidas. Existe saudade recente? Quanto tempo precisa para sentirmos saudades? Para que sentir saudades? Buscando responder essas questões com as quais me deparei, resolvi simplesmente lembrar cada momento importante, ou talvez, nem tão importante que vivi ao longo dos meus poucos para alguns e dos meus muito 29 anos para outros.

Aí comecei. Lembrei-me da minha primeira casa, dos meus primeiros amigos. Cada um para um lado, uns que não falo há algum tempo, outros ainda estão presentes graças ao facebook e ainda uns poucos que sempre estiveram ao meu lado. Pensei nos meus antigos brinquedos e naquele carrinho que eu adorava e que um dia resolvi doar. Pulei alguns anos e lembrei-me do sofrimento que foi quando mudei para minha segunda casa e deixei um pouco de mim para trás. Algumas amizades que se desfizeram, algumas pessoas que se foram.

Dando mais um salto e provavelmente esquecendo muitos detalhes, lembrei-me de algumas escolhas erradas e muitas certas, graças a Deus! E fui, fui, fui, fui. Cheguei à atualidade e pensei sobre a minha vida hoje, e claro, sobre a frase do Mário Quintana de dias atrás. E vi como ele tinha razão, pois, se não fosse a saudade, não haveria nada que me fizesse lembrar de cada tempo passado, de valorizá-lo por mais triste que tenha sido, de ter aprendido com ele, afinal, é por causa dela que as lembranças ficam, que as coisas param no tempo.

Foi assim que resolvi desistir de responder todas aquelas questões às quais me propus anteriormente e simplesmente resolvi sentir saudade. Eu sei que muitas vezes ela dói e dói muito. Parece que nunca mais vai passar. Mas pela pouca experiência que eu tenho, posso dizer que ela passa, que o tempo abranda e que ela fica para sempre, mas de uma forma leve, mais suave.

Com isso tudo, decidi deixar só uma questão para vocês: Você já sentiu saudade de hoje? Se não, eu recomendaria. Saudade é bom. Traz coisa boa também. Não existe saudade só ruim, se não certamente o coração trataria de apagar. Se ficou, é porque marcou. Se marcou, é porque foi importante. Se foi importante, vale a pena lembrar. E certamente uma saudadezinha te trará nem que seja de leve um sorriso no canto da boca.

Deixo então, meus sinceros agradecimentos ao Mário Quintana, que hoje trouxe à tona saudades que estavam guardadas, mas que me fizeram um bem incrível reviver.

FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, é professor na PUC Minas e no Instituto Federal, também jornalista e escritor, tem mestrado na área de Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br