Firmino Júnior: Mulheres do mundo, uni-vos!

O grito de protesto socialista “Trabalhadores do mundo, uni-vos!” pode ser adaptado atualmente, especificando a classe feminina. Tenho convicção que as mulheres não precisam de uma gota da piedade dos homens, até porque elas são soberanas em relação a nós. Entretanto, há que se levar em conta alguns fatos absurdos que têm acontecido ao redor do mundo, e inclusive no Brasil, e inclusive na sua cidade. Se há uma causa que merece o protesto nas ruas, é o tratamento que a classe feminina tem recebido de nós, homens. Não há Lei Maria da Penha que dê conta da covardia masculina em relação as mulheres. Esta legislação é sim importante, mas de prático, pouco mudou.

Não estou falando aqui da discriminação no trabalho, em cargos de chefia, ou no salário menor com carga horária maior. Sim isso ainda existe e é comum. Estou levantando a questão dos maus tratos, covardia mesmo, daquela que dói nos ossos e na alma. Os jornais são enfáticos: “a cada uma hora e meia, uma mulher morre vítima de violência masculina no Brasil”. Os dados dão conta de que quase 6 mil mulheres são mortas, trucidadas, têm suas vidas interrompidas por ano no nosso país. Isso mesmo, no Brasil, o país da copa das copas. Para lei essa atrocidade recebe o nome de “conflitos de gênero” ou “feminicídio”, ou seja, mata-se a mulher pelo fato de ela ser mulher, simplesmente, sem causa.

A revista Veja trouxe nessa semana uma notícia de Lahore, no Paquistão. O artigo conta que Farzana Parveen foi morta a pauladas e tijoladas por ter se casado sem autorização da família. O próprio pai, irmãos e outros parentes se incumbiram de realizar um linchamento público. Detalhe: ela estava grávida de três meses. Ou seja, duplo homicídio moral. Em Cartum, no Sudão, a médica Meriam Ibrahim deu à luz uma filha. A menina nasceu com muitas complicações, o que não foi suficiente para tirar as correntes dos pés da mãe na enfermaria da cadeia. O crime que ela cometeu? Apostasia. Ou seja, mesmo tendo sido criada na religião cristã pela mãe, o pai – desaparecido – era muçulmano.

Brasil, Paquistão, Sudão e Nigéria. Sim, o recente caso nigeriano chocou o mundo. Duzentas adolescentes foram sequestradas por fundamentalistas islâmicos e têm sido estupradas até 15 vezes por dia, segundo os próprios criminosos. No Iraque, avança uma lei que instaura a permissão do casamento de meninas com até 9 anos de idade. Detalhe, na prática isso já ocorre em muitos países do oriente médio, o que explica a morte de várias delas na noite de ‘núpcias’, justamente porque o organismo não suporta as chamadas “obrigações femininas” para com o marido.

Para as brasileiras, um número pode salvar e libertar vidas: 180. Caso você tenha sido agredida – uma vez que seja – pode entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher que, infelizmente, no ano passado, atingiu a marca de quase 4 milhões de ligações. Não admita uma segunda vez. Seja intolerante com a criminalidade em casa. A mudança começa com você. E que, nós homens, pensemos como o bem-humorado Miguel de Cervantes, que certa vez afirmou: “Entre o sim e o não de uma mulher, eu não me atreveria a espetar um alfinete”. Ou, como o grande arquiteto de Brasília e da Pampulha, Oscar Niemeyer: “Não há nada mais importante que a mulher, o resto é bobagem”. E eu digo, Mulheres do mundo, uni-vos, contra o mal que os homens podem lhes fazer.

FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, é professor na PUC Minas e no Instituto Federal, também jornalista e escritor, tem mestrado na área de Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br