Firmino Júnior: Sobre a Copa das Copas

Para quem tem costume de acompanhar minhas colunas, já deve ter percebido que não costumo escrever sobre temas concretos. Na maioria das vezes reproduzo alguns pensamentos que me veem a cabeça sobre assuntos mais abstratos, que envolvam sentimentos, inquietações. Contudo, devido a aproximação da copa e as divisões de opinião que o tema tem causado, resolvi refletir, ou talvez mesmo divagar, não sei bem como definir, sobre a autoestima do brasileiro em tempos em que a competitividade tem se acirrado ainda mais.

Não sei se lembram da frase que nosso ex-presidente Lula disse enquanto palestrava sobre a política externa brasileira em 2013. Ele afirmara que parte da nossa elite tem “complexo de vira-lata”, ou seja, o brasileiro não é respeitado no exterior por se sentir inferior antes mesmo de competir. E não é que isso tudo faz algum sentido! Brasileiro é carismático, sorridente, boa praça, está sempre de braços abertos para um carinho, um abraço e isso ninguém questiona. Mas e a autoestima de nós brasileiros, como anda?

Sou um brasileiro comum e tenho acompanhado com frequência os assuntos relativos à copa, e sabe, constatei que tenho me sentido com uma autoestima mais elevada ultimamente. Conversando com alguns amigos vi que não estava acontecendo só comigo e então “coloquei a culpa” na copa. Desde que o Brasil conseguiu sediar dois eventos de grande porte, tenho percebido que esse sentimento de pertencimento tem aflorado de modo geral nos brasileiros. Claro que são muitos os problemas, muitos prós e contras, mas mesmo quem é contra a copa é a favor do país, quer melhorias, grita por justiça.

A partir disso, percebi que a autoestima do brasileiro tem crescido gradativamente. Os que reclamam, não reclamam mais calados, tem vontade, tem coragem, tem autoestima. Os que apoiam os jogos orgulham-se, sofrem e alegram-se com as obras, com as mudanças. Mas o mais importante: acreditam, torcem e vivem intensamente esse momento.

Torcer. Torcer é a grande questão. Percebi também que não necessariamente torcemos pela vitória, mas sim, pela realização de um evento de qualidade. Torcemos para que os gringos percebam que o brasileiro não é só simpatia e carisma. É responsabilidade. É competência. È Brasil sil sil sil...

Em tempos de baixa autoestima o sentimento do brasileiro de pertencer a um país que com muita luta tem sido reconhecido mundialmente é o que tem movido a copa e moverá todos os próximos eventos. Dessa forma, acredito que o ex-presidente tinha razão naquele julho do ano passado, mas que agora esta frase está cada dia mais ultrapassada. A copa, mesmo com a sua bagagem de problemas, trouxe uma coisa que o brasileiro precisava: elevação da autoestima.

É fato que a copa está aí e se realizará nem que seja de última hora (brasileiro está acostumado com os ‘finalmentes’ não é?). Todas as críticas exteriores (e interiores) vão ter que engolir cada ofensa feita a nós. O brasileiro mudou de comportamento ou enxergou o que nós mesmos não acreditávamos. O fato é que mudamos a forma com que nos vemos e consequentemente como os outros nos enxergarão.

FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, é professor na PUC Minas e no Instituto Federal, também jornalista e escritor, tem mestrado na área de Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br