Firmino Júnior: Amor em três tipos

Já faz um tempo que quero escrever sobre a palavra de origem grega “ágape”, mas faltava-me inspiração. Nessa semana, resolvi correr o risco. Pra quem não sabe, ágape significa, a priori, amor. Mas não é qualquer amor. O amor na sua forma ágape é aquele incondicional, de entrega irrestrita. Entre os gregos (Platão, Aristóteles e Sócrates principalmente) era indicado para demonstrar o amor no matrimônio e, sobretudo, dos pais para com os filhos. O amor que Deus tem conosco é indicado no Novo Testamento como um exemplo de ágape. Uma forma correta seria “Ágape a Deus sobre todas as coisas”. Ágape é então aquele amor sem limites, onde não há ‘porém’. Mas atenção: não é aquele amor maluco, desvairado, cego. O amor ágape é racional, ama ao ponto de sofrer para educar. Ama, sem cessar, mas também sem contaminar e atrapalhar a formação moral e intelectual do outro. No caso do casamento, por exemplo, não se trata daquele amor doentio e ciumento. Aliás, François La Rochefoucauld tem uma frase célebre, onde constata que “nos ciúmes existe mais amor-próprio do que verdadeiro amor”. Ágape, não é uma forma de amor-próprio, nem aqui, nem na China. A expressão ágape indicava uma forma de amor tão sublime, que para sentimentos menos ardentes como o carinho e a afeição, os gregos usavam a expressão “philia”. Para eles, não se tem o sentimento ágape a qualquer momento. Mas se o amor que sentimos não ultrapassa os limites carnais, se nossa afeição é estritamente de natureza sexual, pura atração física, não há aí nem philia e muito menos ágape. Neste caso – diziam os gregos e romanos – a expressão mais correta seria dizer que se trata de um “Eros”, que representa, na mitologia, a deusa do amor. E será que nós temos conseguido praticar essa forma tão sublime de amor? Como temos cuidado da nossa família? Amando e educando? Ou só levando na maciota? Nosso meio ambiente está conseguindo sentir nosso sentimento ágape? Pais, filhos, netos, todos nós, estamos carentes de dar e receber amor puro. O mundo não está fácil pra ninguém! As relações ficam cada vez mais devastadas pelo trabalho e pela ganância. E o que nós podemos fazer para melhorar isso? O filósofo Pitágoras certa vez pediu: “Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo”. Será que estamos nos purificando cotidianamente? Será que quando estamos recebendo amor ágape estamos azedando-o? Será que nosso recipiente principal, o coração, está azedo ou apto para receber e dar amor? Mais do que isso, será que damos o devido valor naquele pai que ensina o filho trabalhar desde cedo para se tornar alguém na vida? Ou será um pai ruim aquele que castiga e não cobra os afazeres escolares? Não. O amor ágape é extenso e puro, mas por isso cobra, reclama e é antes de tudo exigente. Deus é exigente... Nunca se esqueça que, como dizia Charles Chaplin, “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, é professor na PUC Minas e no Instituto Federal, também jornalista e escritor, tem mestrado na área de Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br.