'Luz Fantasma' é flagrada por motorista na MG-341 em Piumhi

Militar da reserva tem um encontro com a enigmática aparição que há décadas habita o imaginário popular do piumhiense; ‘uma luz misteriosa acompanhando o carro o tempo todo’

    ‘Estou vindo de Vargem Bonita... São Roque. Uma luz misteriosa ao lado da rodovia acompanhando o carro o tempo todo... antigamente, falava-se desta luz. Agora está bem à frente do carro. Estranhamente... lá vai entrando... parou na frente. Não sei que coisa é essa... brilha muito. Colocada na lateral... muito estranho, bem perto do carro, acompanhando... para...’
    Esse relato, em imagens e áudios gravados no celular de um experiente oficial da reservada da Polícia Militar -- veterano e profundo conhecedor da área onde serviu por quase três décadas -- seguramente, descreve o avistamento de um fenômeno fantástico, inusitado, surpreendente, inexplicável e que há décadas habita o imaginário popular piumhiense: o caso da Luz Fantasma.  Trata-se de uma enigmática aparição que até hoje permanece sem explicação: uma misteriosa entidade, que com frequência, surgia vagando pelos céus, pelos campos e pelas serras, ora com a aparência de uma luz intensa, ora na forma de um objeto voador de luminosidade intensa.

    Era por volta das 21 horas quando o militar seguia com a esposa ao volante pela rodovia MG-341 cerca de uma légua depois da comunidades de São José dos Cabrestos (Campinópolis) rumo a Piumhi. Não chovia, mas o céu estava carregado de nuvens pesadas. ‘Foi quando eu avistei a luz, muito forte, num alaranjado intenso, oscilando pouco acima da vegetação, ao fundo de uma pastagem. Nenhum barulho, ora mais acima, ora mais baixo, mantendo velocidade e um pouco à frente do carro. Bem acima, vislumbrava-se a lua entre as nuvens, portanto, não tinha como confundir’, conta.

    A aparição não teria durado mais que 50 segundos, contabiliza o oficial, que revela ter se sentido um tanto assustado com a enigmática figura luminosa que mudava de forma e tamanho de tempo em tempo, sem se aproximar ou mesmo distanciar.  ‘Assim seguiu por cerca de um quilômetro, até que ela surgisse bem à frente do carro e, assim como apareceu, dissipou-se, num apagão’, relata o militar.

    Confessa nunca ter visto algo parecido e que tudo o fez lembrar mesmo da misteriosa luz cuja história conhece há tempos através de leitura de antigos casos registrados pelo ALTO. Questionado, disse que em momento algum chegou a sentir medo. Teria ficado mesmo um pouco assustado e muito curioso, pois só conhecia a aparição através de ouvir falar. ‘Apesar de cético, não escondo, sempre tive uma pontinha de vontade de um encontro com esse misterioso personagem da crônica regional’, revela.

‘DE ARREPIAR’
    Descrições de estranhas observações visuais luminosas são quase tão antigas quanto os primeiros moradores da região. Há relatos do abantesma percorrendo encostas, assustando pescadores deslizando pelo leito do rio, apertando o passo do caboclo que segue pelo trilho no meio do cerrado, seguindo motoristas pelas estradas rurais durante as madrugadas escuras.
    Para alguns, coisa mesmo do outro mundo, de alma penada, para outros, ação mesmo de extraterrestres e, numa terceira vertente, mais científica, trataria mesmo de fogo-fátuo, chama que aparece à noite, emanada de terrenos pantanosos ou de sepulturas, atribuída à combustão de gases provenientes da decomposição de matérias orgânicas. Fosse o que fosse, fez muita gente arrepiar e o enigma ficou mesmo batizado de Luz Fantasma.
    Uns contam que às vezes a Luz Fantasma aproximava-se assustadoramente das pessoas, outros que emitia uma espécie de zumbido e que diante dela os animais fugiam apavorados. Há casos em que ela teria chegado mesmo a quase invadir o interior das casas e, em outros, postara-se à frente do observador, como que iluminando o caminho.
    Um antigo motorista de caminhão leiteiro, dizia-se tão acostumado com a tal Luz Fantasma que estranhava quando o abantesma não o acompanhava nas suas rotineiras incursões antemanhãs. No contraponto, um tradicional taxista que de tanto assombro pelo espectro recusava ‘corrida’ quando se tratava de seguir por certas bandas após o escurecer.

REAÇÕES DIVERSAS
    Embora seculares, foi nas décadas de 60 e 70 que os avistamentos eram mais numerosos e, embora constatados nos quatro cantos do município, pareciam ter uma predileção naquela época pelas imediações das localidades de Motas e Tapiocanga. Viajantes que transitavam pelas áreas, moradores e trabalhadores rurais, pessoas de todas as idades, tinham sempre algo espantoso a contar sobre esses fatos inexplicáveis. Haviam passado ou conheciam alguém que havia passado pela experiência de um encontro com a Luz Fantasma — um contato sempre marcado por reações que variavam do pânico ao deslumbramento. Afirmavam que a coisa luminosa surgia ou desaparecia às vezes do nada, outras vezes baixava das alturas, ora emergia das profundezas de alguma grota, ora de algum ponto inacessível do terreno.
    Na maioria das vezes a experiência não passava de um simples contato visual a maior ou menor distância, um avistamento sem maiores consequências. Entretanto, não são poucos os relatos de marcas de calcinação deixadas no solo, ou de trabalhadores que teriam recusado trabalho em fazenda da região, por medo desse encontro com o desconhecido. E, em pelo menos um caso, suspeita-se de que tenham ficado sequelas físicas e emocionais na pessoa que passou pela experiência.

MITO OU FANTASMA
    Enquanto as aparições se sucediam, o imaginário popular, por sua vez, produzia teorias para explicar o fenômeno. Circulavam desde explicações nascidas da superstição e do misticismo, como a que afirmava ser a Luz Fantasma a alma de uma mulher grávida cruelmente assassinada na região. Ora dizia-se tratar de um artefato voador secreto, mas produzido pelo próprio homem, ora de um engenho de origem extraterrestre.
    Para os incrédulos, a entidade era fruto da crendice — talvez uma versão piumhiense de dois mitos frequentemente encontrados no folclore brasileiro: o Boitatá, também chamado de fogo-fátuo e a Mãe-do-Ouro, já que ambos falam de fogos (ou luzes) noturnos e podem ser encontrados entre as populações rurais de todo o Brasil.

EXTRATERRESTRE
    Na década de 70, através de uma reportagem publicada pelo ALTO S. FRANCISCO, estudiosos de Ufologia, ciência que investiga o fenômeno dos discos voadores, tomaram conhecimento do assunto. Em carta à Redação do Jornal, os ufólogos também dariam a sua versão: a Luz Fantasma, afirmavam eles, seria nada menos que uma espécie de sonda teleguiada de origem extraterrestre. Segundo os pesquisadores, o fenômeno de parafernálias alienígenas repetia-se em muitas regiões do Brasil, conservando sempre as mesmas características. Tais sondas, diziam eles, eram dotados de equipamentos ultrassofisticados e sua missão seria coletar imagens e recolher amostras de minerais e vegetais de uma determinada área para estudos. Eram lançadas e controladas à distância, a partir de uma nave-mãe postada a grandes altitudes. Operavam geralmente à noite e, cumprida a missão, retornavam à sua base.

ÚLTIMA APARIÇÃO
    O último avistamento da Luz Fantasma em Motas que se tem notícia se deu há quase duas décadas e meia. Foi em 25 de janeiro de 1995, na propriedade do agricultor Divino Fernandes Martins — e também foi registrado pelo ALTO. Ele contava que por volta de 1h20 foi despertado por um barulho estranho. Abriu a porta e teve uma surpresa: o terreiro estava totalmente iluminado por uma luz estranha que provinha de ‘uma espécie de farol’ que pairava a uns 10 metros de altura, a uns 100 metros de sua casa. O fato foi presenciado ainda por sua esposa. O avistamento durou cerca de 2 minutos. De repente, apagou-se e sumiu. O estampido foi semelhante a ‘um foguete quando sai da casca’, um ‘tuff!’ — e pronto, ninguém viu ou ouviu mais nada, contava a mulher.
    Diante de fartos testemunhos coincidentes, fica a certeza de que há algum tempo, alguma coisa misteriosa vagava pelas noites na região. Mas o que era de fato essa coisa, ninguém jamais soube explicar e, talvez, continue sendo, para sempre, um mistério a história da Luz Fantasma.